Lei vai movimentar mercado de rastreadores
A partir de 2011, os compradores de automóveis zero quilômetro poderão passar a conviver com mais um gasto fixo mensal, além de despesas usuais com combustível, impostos e prestações da compra do carro, entre outras.
A conta a mais virá para quem optar por ativar um dispositivo de bloqueio e rastreamento, que virá instalado, obrigatoriamente, em todos os veículos novos. A regra também valerá para os carros novos importados comercializados no país. O rastreador permite, por exemplo, localizar veículos roubados.
Com a obrigatoriedade, as empresas que ativam esse tipo de equipamento esperam aumentar o peso desse serviço no faturamento. São 330 empresas do setor no país, com receita anual de R$ 1,5 bilhão. Só as oito maiores respondem por 50% do movimento financeiro.
"Vamos concorrer com outras contas mensais, como internet, TV por assinatura e telefone celular, por exemplo", diz o presidente da Sascar, José Ricardo Quintana. Ele estima que o valor da conta para o dono do carro vai ficar entre R$ 29,90 e R$ 50 por mês. O rastreador, por sua vez, poderá custar entre R$ 700 e R$ 800.
A Sascar é uma das maiores empresas do país que ativam o rastreador. Quintana conta que a decisão de ativar o equipamento será tomada pelo comprador do veículo nas concessionárias.
Segundo ele, a Sascar já investiu R$ 6 milhões numa nova plataforma de software para fazer a ativação do equipamento e oferecer serviços além da simples localização de um veículo roubado.
Atualmente 80% do faturamento da Sascar é gerado pelo rastreamento de caminhões. Os 20% restantes vem de outros veículos, incluindo carros de passeio e barcos, por exemplo.
Nos próximos três anos, a expectativa de Quintana é que a fatia da receita proveniente do rastreamento de outros veículos aumente para 35%. "Quem já é proprietário de carro também vai querer o dispositivo", afirma o presidente da Sascar.
A Porto Seguro já instalou o rastreador em 400 mil veículos no país, segundo o diretor da divisão de seguros para automóveis, Marcelo Sebastião. Desse total, 97% são veículos de segurados da empresa, que ganham a instalação como um benefício. Nesse caso, há um desconto para o valor do seguro que depende do perfil do cliente.
"Para a seguradora, o ganho é na recuperação do veículo. Nos veículos com o rastreador, a taxa de recuperação está acima de 65%", afirma Sebastião.
O executivo diz que 3% dos dispositivos instalados pela empresa são de quem não tem seguro da companhia. Nesse caso, o rastreador e a sua ativação são vendidos pela Porto Seguro Proteção e Monitoramento.
O diretor da Porto Seguro Proteção e Monitoramento, José Luis Ferreira da Silva, diz que a venda de rastreadores para não segurados começou há dois anos. Desde então, ele calcula que são instalados, em média, 1 mil rastreadores por mês.
As fabricantes do rastreador no país também têm boas perspectivas com esse novo mercado. O diretor da Quanta, Silvio Cirelli, diz que há potencial para dobrar a sua produção um ano após a entrada em vigor da obrigatoriedade da instalação do dispositivo na montadora.
Atualmente, a Quanta produz 20 mil rastreadores por mês com apenas um turno. Cerca de 70% do faturamento da empresa é gerado pela venda do equipamento para caminhões e 30% vem de outros veículos.
A obrigatoriedade da instalação dos rastreadores na fábrica acontecerá por meio da resolução 245 da Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito (Contran), órgão do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que por sua vez é subordinado ao Ministério das Cidades.
Essa resolução, vinculada à Lei Complementar 121, de 2007, estabelece a proporção de veículos que têm de sair de fábrica com o bloqueador e rastreador. São percentuais que crescem de forma gradual até alcançar 100% .
O ministro das Cidades, Marcio Fortes, afirma que a resolução 245 vai começar a vigorar no dia 1º de maio. De acordo com ele, até o fim do ano que vem todos os veículos que sairão das montadoras terão o rastreador instalado. "A grande vantagem desse equipamento será a queda no preço dos seguros", observa o ministro.
Cirelli, da Quanta, afirma que houve pelo menos quatro prorrogações de data para a resolução entrar em vigor, por causa de dúvidas quanto à tecnologia do equipamento.
O executivo conta que os rastreadores funcionam com tecnologia de telefonia celular GSM. Por isso, têm no seu interior um chip de alguma operadora de telefonia móvel. O objetivo é proporcionar ao consumidor um rastreador que possa usar um chip que se conecte com as 29 operadoras diferentes no país. Isso não estava previsto na resolução inicial. Liminares que contestavam a invasão de privacidade que o novo equipamento pode trazer também atrasaram a entrada em vigor da resolução.
Alberto Komatsu - De São Paulo
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