sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Setor aéreo: 95% das denúncias trabalhistas são contra a Gol

Está prestes a acontecer a primeira greve de aeronautas no Brasil desde 1988. O diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, continua recebendo denúncias de tripulantes sobre descumprimento da regulamentação trabalhista pela companhia aérea Gol. São contra ela 95% das queixas, calcula.

Em entrevista ao Terra Magazine, ele aponta os impasses e as circunstâncias da segunda audiência de mediação entre tripulantes e a direção da Gol, marcada para esta hoje (20).

Camacho critica a atuação da Anac, acusa uma fraude diante da fiscalização e não se fia nas desculpas das companhias aéreas. A agência e a Gol justificaram que os recentes atrasos e cancelamentos de viagens decorreram de falhas no programa de computador do novo sistema de escalas, que causou a falta de tripulantes.

Leia a entrevista.

Terra Magazine - Haverá uma reunião nesta sexta-feira sobre o impasse entre a Gol e seus tripulantes?
Carlos Camacho - Amanhã (hoje) vai ter uma audiência de mediação no Ministério Público do Trabalho, na Procuradoria Regional. A empresa declara algo absolutamente absurdo, que é a não garantia de que ela pode cumprir a lei, isso causou um torpor muito grande perante seus trabalhadores. Cumprir a lei é obrigação de todos, principalmente daqueles que detêm concessões públicas, que é o caso das empresas de transporte aéreo.

TM - Cumprir a lei exatamente em quê?
CC - Principalmente no que diz respeito à regulamentação dos trabalhadores de terra e de voo, particularmente de voo, que a empresa vem descumprindo.

TM - Na verdade, há um problema de escala que não é necessariamente do software, não?
CC - O que a gente tem assistido aqui, através das denúncias que eu recebo, é que as empresas, quando apertadas pela ANAC, declaram que tiveram problemas em software. A empresa Gol/Varig fez isso. A empresa Passaredo, a mesma coisa. Quando visitada pela Anac, ela apresentou problema no seu software, veio lá com uma escala feita a lápis e a colocou à disposição dos inspetores da Anac, que se deram por satisfeitos. Interessante que, por esta escala feita a lápis, tinha tido muito mais do que as oito folgas mandatórias mínimas por mês, quando, na verdade, muitos tripulantes não tiveram mais do que quatro ou cinco folgas no total.

TM - As outras companhias aéreas estão em situação semelhante à Gol em relação às denúncias de condições de trabalho e irregularidade nas escalas de trabalho dos aeronautas?
CC - A TAM era campeã no início do estabelecimento deste nosso protocolo de recebimento de denúncias. E foi assim por alguns meses. Porém, deve ter se adaptado, contratou mais gente. Tomou menos voos da parte da Anac, portanto se sente mais confortável para fazer os voos com os tripulantes que tem. Não que a Tam não tenha denúncias. Tem, mas em muito menor número do que os da empresa Gol, que possui 9,5 a cada 10 denúncias.

TM - As empresas menores também vêm sendo denunciadas?
CC - Tem informação, sim. Da Passaredo, da Trip, de descumprimento de regulamentação do trabalhador. E o trabalhador da aviação é um elemento muito especial porque trabalha sob pressão forte o tempo todo, principalmente mental. Tem também a necessidade de que seja literalmente cumprida porque pode representar o fator humano presente num acidente aeronáutico.
A partir do noticiário sobre os últimos transtornos da aviação brasileira, leitores se identificaram como aeronautas e alertam sobre condições inadequadas de manutenção de equipamentos e estado de conservação de aeronaves de algumas empresas.

TM - Qual é a expectativa para a reunião desta sexta-feira?
CC - O grupo declarou, em assembleia do dia 13 de agosto, aqui, em São Paulo, por unanimidade dos votos e duas abstenções, que mantenha a assembleia em caráter permanente, e o estado de greve foi declarado.

TM - Como houve unanimidade pelo estado de greve, se forem encerradas as negociações nesta sexta-feira, são grandes as chances de ser decretada a paralisação segunda-feira?
CC - Não duvido.

TM - Seriam mantidos apenas 30% dos voos da Gol?
CC - 30%.

TM - O que essa greve representaria para a aviação aérea brasileira?
CC - Pelo que as empresas estão voando hoje, acho que é muito ruim porque as pessoas já compraram suas passagens, os voos já estão programados, as escalas de tripulantes já foram planejadas e produzidas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário