sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Lei de SP para prédios ainda provoca controvérsias

A lei municipal de São Paulo que obriga empreiteiras a construir prédios e casas (com três banheiros ou mais) com sistema de aquecimento solar está perto de completar três anos, mas ainda gera discórdia entre defensores da ideia e representantes do setor empresarial. A prefeitura garante que os projetos imobiliários aprovados desde a regulamentação da legislação, em janeiro de 2008, têm cumprido todas as exigências técnicas, mas não detalha quantos foram autorizados ou barrados até hoje. "O sistema do departamento responsável é todo informatizado, mas não tem um filtro para identificar individualmente as plantas com aquecimento solar", explicou a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Habitação.

Mesmo com a lei em vigor, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) mantém posição contrária. O vice-presidente da entidade, Francisco Vasconcellos, diz que as regras não levaram em conta fatores técnicos importantes e pegaram o mercado de aquecedores solares despreparado para atender à demanda das construtoras. "Uma coisa é colocar uma placa solar para aquecer uma casa, outra diferente é colocar num prédio de 20, 25 andares. Há uma série de restrições para equalizar a pressão hidráulica que leva a água quente para cada apartamento. São soluções complexas e caras, quem paga por elas é o consumidor", afirma.

A Tecnisa tem três obras em andamento e 22 projetos na planta, todos contemplados com sistemas de aquecedores solares. Fabio Villas Bôas, diretor-técnico da empresa, confirma o aumento de custo. "Tivemos que mudar alguns conceitos, rever a tubulação de água que atende as unidades, mas não é possível fazer uma média de gasto, pois depende do apartamento, da altura do edifício, das condições de iluminação."

O executivo ressalva que os aquecedores incluídos nas plantas da Tecnisa ainda não foram instalados. Ele teme problemas de fornecimento. "Precisamos contratar duas consultorias para elaborar os projetos e os resultados foram muito diferentes. Ainda não tivemos a experiência de instalar, é uma preocupação", diz Villas Bôas.

O físico Delcio Rodrigues, especialista em energia solar do instituto Ekos Brasil, argumenta que as tecnologias atuais dão conta dos desafios técnicos da instalação em larga escala de aquecedores solares e que o mercado brasileiro está preparado. "Se fosse impossível não teríamos o exemplo de Belo Horizonte, que já conta com mais de 2 mil torres abastecidas por energia solar. Quanto à capacidade de fornecimento, o país ainda pode recorrer à importação."

O custo, continua Rodrigues, é relativo. "Se comparar a instalação de um sistema solar para uma casa de quatro banheiros, que custa entre R$ 3,5 mil e R$ 5 mil, com o preço de um chuveiro elétrico de R$ 50, é claro que é caríssimo. Mas o investimento pode ser vantajoso na ponta do lápis. Em quatro anos, é possível descontar a diferença com economia de eletricidade."

Luciano Máximo - De São Paulo

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